Walber Guimarães Junior
2027 é logo ali...

Em um longínquo dia, nossos ancestrais desceram das árvores e iniciaram uma longa caminhada sempre em busca da sobrevivência, em passos lentos e com muitos sobressaltos, mas, após a fase inicial de intensa fartura como coletores e caçadores, o clima limitou migrações mais intensas e, através da agricultura, o homem descobriu que podia se fixar em algum lugar. Logo percebeu que não tinha capacidade de atender todas as suas necessidades, e o escambo se tornou a opção prioritária, com a noção de produzir mais que seu consumo para ter sobras para trocar por produtos que não dispunha.
Vamos abreviar esta longa história de alguns milênios porque todos aqueles que ainda no início de sua vida escolar, tiveram acesso à história universal, sabem que as rotas comerciais, o comércio marítimo, as descobertas, colonizações, enfim cada capítulo da nossa história remetia à necessidade do homem de suprir suas necessidades, sempre limitadas pelos recursos e pelas questões logísticas, até que o progresso eliminou estes gargalos e o planeta se tornou uma grande Aldeia Global, com mercadorias cruzando oceanos e os céus, sempre com origem nos centros produtivos mais eficientes, com destino a locais com potencial de consumo não atendidas. Esta sempre foi a lógica do comércio e das relações internacionais.
Cada avanço tecnológico, permitia acelerar o fluxo de mercadorias e os instrumentos mais modernos da era digital colocam cada recanto do planeta ao alcance não apenas das nações, mas também do cidadão comum. Não importa onde estejam os grãos, comodities ou bugigangas que se deseje, a internet te informa em qual pontinho do globo terrestre se encontra o preço mais competitivo.
O mundo se ajustou a estas variáveis e se organizou em blocos e parcerias comerciais, sempre com foco em buscar as melhores soluções e garantir a livre circulação das mercadorias, procurando garantir ganhos para todos envolvidos, em operação que os economistas adoram chamar de “ganha, ganha” porque os benefícios se estendem a todos os participantes desta ciranda comercial, ainda que os lucros sejam mais generosos com os mais preparados para este jogo. Tão natural quanto a rotação e translação do planeta.
Então chegou Trump! Convencido que esta engrenagem corroía continuamente a liderança dos EUA, ele entendeu que precisava ajustar as regras para que seu país deixasse de ser o “paizão” do planeta, aquele que põe a mão no bolso para resolver toda e qualquer emergência, e interferir no fluxo das riquezas, garantindo que seus cofres fossem de novo, como na metade do século passado, os mais recheados do mundo. Em apenas um trimestre, todos os parâmetros comerciais foram abalados e estamos, sob tensão, tentando reconstruir um novo equilíbrio, cientes que alguns terão uma conta pesada para suprir o apetite do Tio Sam.
A resultante é a revisão de cada prato da balança comercial de todos os países e, de novo recorrendo aos economistas é lícito concordar com suas conclusões de que em guerra comercial nunca tem vencedores, mas apenas os que perdem menos. Mas o que esperar de um player que não pode perder um único centavo para minimizar os graves riscos que já corre em condições normais?
Este player verde e amarelo é um dos mais ativos nas negociações com os dois líderes do planeta, EUA e China, ora em rota de colisão, e isto, em algum momento pode significar instabilidade em nossas posições, ainda que as restrições iniciais nos ajudem porque “atrapalham” ainda mais nossos concorrentes. O problema é que Trump tem em mãos uma faca poderosa e, a qualquer momento, pode encostá-la em nosso pescoço, exigindo que façamos uma opção impraticável neste momento. Definitivamente, não temos margem para optar por nenhum deles sem fortes emoções.
Pessoalmente, acredito que a equação de Trump aponta para tarifas amenas para amigos e o terror para os não alinhados, como forma mais eficiente de lucrar e impor prejuízos ao competidor asiático, combatendo blocos comerciais que limitem a força de suas sanções, como no caso da Comunidade Europeia e dos Brics, exatamente onde o bicho pega porque todos sabem que aquele B pode se tornar alvo, assim como o C que o sucede. Registro que é possível que o tsunami Trump seja apenas uma marola e que ele esteja apenas alterando o patamar das negociações, em especial com a China e, resolvida esta pendência, se estabeleça um novo ponto de equilíbrio.
É lógico também que muitos fatores podem contribuir para aliviar a pressão sobre nosso comércio internacional, desde as reações internas americanas à competência da nossa diplomacia, mas importa perceber que não temos gordura para queimar e qualquer excesso vai atingir a musculatura da economia brasileira. Pior ainda; o melhor antídoto poderia ser a saúde interna do paciente verde amarelo, todavia nosso governo só enxerga outra emergência, as eleições de 26, assim como a oposição joga lenha na fogueira, sabendo que a economia em crise é um ótimo cabo eleitoral, turbinando as chances de seus candidatos, bem na linha do “quanto pior, melhor”, tão ao gosto de nossos políticos.
Tem um enorme sinal amarelo no horizonte! Até o governo atual reconhece que o ciclo deste semáforo aponta para o vermelho (do sinal, não do partido) para 2027, mas a prioridade é eleitoral.
Sempre existe espaço para ações protelatórias e quase todos as adotam. Sejam as pedaladas da Dilma ou a postergação dos precatórias de Paulo Guedes. Não importa a sigla, nisto todos se igualam; empurra com a barriga ou joga a conta para a próxima gestão e, como obra com muitas assinaturas, nossa dívida pública que já compromete mais de 80% do nosso PIB em 2025, por uma razão muito simples; a prioridade eleitoral é muito mais exigente que a responsabilidade fiscal.
Perdoe-me a leitura cruel, mas estou convencido que a nação segue cambaleante até as urnas, todavia sabemos que tem um ajuste depois do resultado eleitoral e alguém vai ter que pagar a conta, seja a direita, a esquerda ou quem vier.
Na prática, você já conhece esta história, agora reforçada pelo efeito Trump; eles gastam tudo que conseguirem para ganhar as eleições e depois entregam a fatura para o eleitor.
Prepare-se; 2027 é logo ali.
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