Walber Guimarães Junior
Orange e o Cérebro (episódio; quais os limites de Musk?)

Com um patrimônio superior a 320 bilhões de dólares, Musk atingiu o topo das maiores fortunas do planeta em 2022, ultrapassando Jeff Bezos, dono da Amazon, agora em 2025 com alguma folga, atuando em diversas frentes, todas com tecnologia de ponta. A Tesla, empresa que praticamente reinventou os carros elétricos, a SpaceX, líder mundial em viagens espaciais e o X, antigo twitter, são apenas as mais expressivas e reconhecidas pelo público em geral.
Sua ousadia no mundo empresarial é notável. A maneira como revolucionou os mercados onde atua são provas eloquentes de sua habilidade infinita de perseguir objetivos e superar limites. Imaginar um foguete enviado ao espaço e retornando para a base, com uma suave aterrisagem, ou mesmo em uma balsa no meio do oceano, pronto para a próxima missão, abre um leque de possibilidades impensáveis antes de sua atuação. Claro que a persistência e a sua fortuna tem tudo a ver com o resultado, afinal foram inúmeros foguetes e ações infrutíferas que consumiram milhões de dólares, fora do alcance até da NASA, sujeita às restrições orçamentárias do governo americano.
Mas a aproximação de Elon Musk do poder, através da sua intensa participação na campanha vitoriosa de Trump que lhe abriu portas do governo americano, com precedentes que preocupam o cidadão médio americano, desvinculado das paixões políticas.
Como primeira missão, Trump entregou, quase que informalmente, pela impossibilidade de formalizar o cargo, o Departamento de Eficiência governamental, DOGE, com a missão de enxugar custos e otimizar ações de cada setor da pesada estrutura americana, praticamente colocando Elon Musk acima de qualquer funcionário público, mesmo ministros e independente das prerrogativas de seu cargo.
Investido do cargo e do poder, Elon Musk tem sido bastante agressivo, conjugando ações focadas na economia de custos aos ajustes ideológicos que chegam a constranger comunidade internacional. Um verdadeiro desmonte na área educacional, de saúde e na área de pesquisa, com demissões em massa, mandando para o lixo, décadas de investimento em pesquisas, talvez influenciado pelas convicções ideológicas de Trump que desconhecem aquecimento global ou crise climática. Felizmente, as ações espaciais de Musk nos livram da hipótese de discutir a terra plana, delírio que atingiu muitos, com leve conotação ideológica.
Algumas destas restrições são impensáveis. A NASA, por exemplo, não tem verba e passará a depender das empresas de Musk para inúmeras ações, limitando seus projetos ou, em última análise, a deixando subordinado ao comando das empresas de Elon Musk.
Trump também concedeu acesso ao parceiro para todo o protocolo de defesa e emergência em caso de conflito com a China, informando alvos, tempo de resposta e consequências, algo que, em situações extremas, deve ser apresentado pelo Pentágono ao presidente de plantão para tomada de decisão. Trump ainda contesta esta informação, mas só a possibilidade de elencar alvos mais vulneráveis ao principal fabricante de foguetes do mundo já gera um temor justificado.
Considerando que o poder de Elon Musk sobre a estrutura do governo americana avançou muito, ainda no primeiro semestre da gestão, nada parece improvável para o cidadão de investiu duzentos e cinquenta milhões de dólares na campanha, oficialmente, além do impacto de muitas de suas ações agressivas no combate ao governo anterior, e fica a expectativa de qual o limite para tanto poder.
É bem razoável supor que o homem mais rico do mundo, com total acesso ao governo, informações e estratégias da nação líder, seja realmente o mais poderoso do planeta. Imagine também que é este mesmo cidadão que comanda as ações espaciais, com milhares de satélites cobrindo (espionando?) cada cantinho da Terra e ainda parece o único capaz de colonizar Marte, ainda que não seja viável no curto prazo.
Qual o limite da força de Elon Musk? Posso supor, mas acredito que ainda podemos ser surpreendidos pelos tentáculos de Musk que se espalham por inúmeras outras áreas, como a sua empresa Neuralink pioneira em implantes cerebrais que podem auxiliar na conexão de cérebros humanos, ou de primatas, a computadores, na fronteira da ética médica, pelas possibilidades que isto descortina, como a hipótese de leitura do cérebro humano, com uma pequena incisão feita por robô e implantando um chip minúsculo, como um pequeno fio de cabelo, que permite a conexão externa.
A chegada ao poder do homem de topete laranja esvoaçante já era preocupante, por sua personalidade intempestiva, mas poucos imaginavam, ainda na campanha que o Orange, versão atualizada do Pink, viesse acompanhado do Cérebro, seu fiel companheiro na missão diária de “conquistar o mundo”.
Para cada um de nós que assistiu os Jetsons na infância e verifica perplexo que só a falta no teletransporte para fechar o conjunto de projeções malucas que o desenho apresentava, é bem razoável a preocupação que a versão atual de Orange e Cérebro possa conseguir fora das telas.
Fico até imaginando o diálogo final diário de Trump com Elon Musk todas as noites, quando o presidente Orange lhe pergunta sobre os planos, com a resposta indelével ..."A mesma coisa que fazemos todas as noites, Orange... Tentar conquistar o mundo!".
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